Preparação de um projecto de maquete

ESCOLHA DO CARRIL

Peco código 80

O código Peco 80 está fora de escala. É um produto antigo, que reflecte as condições de produção industrial da época em que foi lançado no mercado. O amu contacto ocorre em qualquer tipo de carril e deve-se principalmente à acumulação de sujidade invisível a olho nú.As agulhas são Insulfrog. Quer isto dizer que o coração da agulha (a cruzeta em plástico preto ao centro onde os carris se encontram) não tem corrente. Com locomotivas com vários eixos é pouco provável haver paragens por falta de impulso eléctrico, mas com as locomotivas mais pequenas em especial as de dois eixos, é frequente haver súbitas paragens por mau contacto.

As agulhas Setrack (essas de 87mm de comprimento) não devem ser utilizadas em linha ferroviária, se pretendemos fazer um trabalho realista. A curva de desvio é muito apertada. O aspecto de uma composição a circular sobre esse desvio é péssimo.

Têm utilidade para maquetas com eléctricos ou para transformar em via industrial em escalas maiores.

Existem agulhas com raios maiores, adequados ao que se pretende, mas são em Insulfrog na mesma.

Peco código 55

 É o carril cujo dimensionamento mais se aproxima do usado em linha principal. 

 Na realidade existem diversos tipos de carril medidos em kgs/m, de acordo com a carga que estão preparados para suportar. Todos alinham por cima, não há portanto “degraus” ao transitar de um para o outro, mas existem estas diferenças como forma de optimizar os custos. Uma via de saco (aquela via numa estação que só tem uma agulha) não sofre as mesmas solicitações que o carril da linha principal onde irão circular longas composições a velocidades de 120km/h, enquanto numa via de saco, destinada a parquear material, não se deve exceder os 10km/h.

Contudo, apesar de já ter um aspecto mais realista, continuará a ser um compromisso de escala, que apenas os modelistas em fiNescale se dão ao trabalho de mudar. Mas estes são um grupo muito restrito de modelistas experimentados que produzem quase tudo o que usam nas suas maquetas. Todos os modelistas se iniciam com material comercial e uns (muito poucos) avançarão mais tarde para um nível superior de modelismo, que exige ferramentas sofisticadas e muitos conhecimentos técnicos.

 O código 55 tem curvas mais realistas e são Electrofrog. O coração da agulha é em metal, as rodas estão sempre a receber energia.

Quando o código 55 surgiu o contorno dos rodados dos modelos tinham uns aros enormes, desenhados para circular em código 80. A Peco resolveu o problema fazendo o rebaixo da parte central das travessas. Hoje essa questão dos rodados já não se coloca a não ser para quem tenha material com mais de 20-25 anos.

 Mas alguns (incluindo lojistas) ainda pensam assim.

O preço das agulhas deve ser idêntico em ambos os códigos. Os motores são os mesmos.

A opção por um raio de curvatura deve ter em atenção os seguintes parâmetros:

1 – Comprimento de cada uma das peças a circular

2 – Comprimento da composição (somatório de todo o material)

3 – Localização da curva

3.1.1 – Curva num trecho bem visível da linha principal (a que se dirige para estação)

Teremos de atender ao funcionamento mecânico (rolamento da composição sem grande atrito) e efeito estético.

3.1.2. – Curva num trecho da linha principal pouco visível, escondido por cenário.

Teremos de continuar a respeitar o funcionamento mecânico, mas poderemos estabelecer um compromisso com o aspecto estético, se não se notar.

3.2. – Curva dentro da estação

Além das considerações estéticas, as curvas das vias na estação devem atender à necessidade de engatar e desengatar material sem problemas mecânicos. As curvas dentro das estações dividem-se em dois tipos:

As curvas “simples” - são as curvas entre dois troços de recta.

As curvas de transição - são as que fazem a transição da curva de uma agulha para uma via paralela. Os valores para estas curvas variam, adaptam-se à geometria de cada agulha.      

QUAL O COMPRIMENTO DAS VIAS NUMA ESTAÇÃO?

É determinado pelas composições que desejamos utilizar.

O comprimento do material rolante aumenta conforme se avança nas Épocas. Um vagão moderno poderá ter o comprimento de dois ou três vagões da Época I, por exemplo.

As carruagens de passageiros também obedecem à mesma lógica, acrescida da diferenciação entre serviço de passageiros local e de longo curso. Esta diferenciação diluiu-se a partir da Época IV, quando os comprimentos começaram a ser mais semelhantes  (passagem de material velho das linhas principais para as secundárias).

A distância entre agulhas não é o mesmo que o comprimento “operacional” da via. Há que dar o desconto aos desvios. É sempre menos.

O dimensionamento das composições pode ser feito de duas formas:

A idiota, chamando a uma locomotiva e duas carruagens um intercidades (provavelmente nem com a CP isso acontece)

A “realista” – fruto da pesquisa sobre o funcionamento de um determinado tipo de linha e serviço.

Existem sempre compromissos, mas é preferível pegar pelo lado de “que tipo de cenário/realidade poderei representar neste espaço” a insistir num que se gosta em particular, mas não se adapta aos condicionamentos de espaço disponível.

Exemplificando:

- Será preferível enveredar por Época I, porque o material é mais curto (embora não nos seja familiar) a querer representar material moderno, com dimensões enormes.

- Será preferível representar uma linha secundária a uma linha principal.

 - Será preferível representar uma estação términus, pois tem menos agulhas. O fim da linha pode ser feito com apenas uma agulha de escapatória para a máquina, poupando-se no comprimento total.

Existem muitas possibilidades a considerar. O essencial é que história se quer contar

QUE HISTÓRIA SE QUER CONTAR?

Entramos agora no campo da concepção da maqueta. Também aqui se pode fazer de duas maneiras: a idiota, metendo tudo o que vier à cabeça e caiba. Ou escolhendo um tema, criando uma história, “limpando” o guião dos detalhes (*) que estão a mais e criar uma boa encenação em que a história que estamos a contar seja tão credível que o observador “mergulhe” nela.

(*) O mau contador de anedotas é aquele que cansa a audiência com detalhes e nunca mais chega à punch line.O bom contador de anedotas é o que escolhe criteriosamente as palavras, faz uma gestão tão criteriosamente delas como dos silêncios e em bom ritmo chega ao fim da história. 

Uma boa maqueta não se mede pelo número das agulhas ou pela quantidade de detalhes. Mede-se sim pela legibilidade da história e boa execução do conjunto (claro que cada componente tem de estar bem feito…). Normalmente gasta-se menos dinheiro numa boa maqueta do que numa má. Na boa, tudo está planeado, só se investe no que realmente faz falta para se obter o efeito desejado. Na má, a lista de compras nunca acaba e fica cada vez pior.

Na boa maqueta, corta-se na quantidade de locomotivas, para se poder comprar os sinais e digitalizar as máquinas.